RELATÓRIO EUROPEU PROPÕE DAR MAIS COMPETÊNCIAS AO FARMACÊUTICO.
O Painel de Peritos da Comissão Europeia que se debruça sobre as formas eficazes de investir na saúde tem competências na área dos cuidados hospitalares, produtos farmacêuticos, investigação e desenvolvimento, prevenção e promoção da saúde, ligação com o setor da proteção social, questões transfronteiriças, financiamento do sistema, sistemas de informação e registo dos doentes, desigualdades em saúde, entre outras. Este painel de especialistas não hesita em reforçar que alguns grupos profissionais, como é o caso dos farmacêuticos, “podem assumir papeis substancialmente mais amplos, em comparação com o que tem sido feito tradicionalmente”. A opinião é muito clara: “Esta situação deve mudar”.
Em alguns países o farmacêutico já assume um papel mais ativo na gestão da medicação, aconselhamento sobre interações, acompanhamento e apoio ao doente para uma melhor adesão à terapêutica e, em alguns casos, na prescrição e monitorização dos efeitos do tratamento. O que importa, de acordo com este relatório, "é a evidência, em vez de regras tradicionais, muitas vezes obsoletas".
Evidências do papel do farmacêutico
Historicamente, os farmacêuticos hospitalares permaneciam na farmácia, com seu papel limitado a preparar e dispensar medicamentos prescritos por médicos. Hoje em dia, o papel dos farmacêuticos vai muito além disso e a polimedicação em muitos doentes requer a análise adequada das potenciais interações. Conseguir este direito requer conhecimento especializado de farmacocinética, que, segundo os autores, em alguns casos vai além do que é expectável para um médico responsável por doentes com problemas de saúde distanciados da sua prática habitual. É por essa razão que os farmacêuticos estão cada vez mais presentes em enfermarias e ambulatórios.
O relatório deste painel compila a conclusão de vários estudos sobre o papel do farmacêutico nas unidades hospitalares. O envolvimento regular do farmacêutico demonstra estar associado à redução de custos, redução dos tempos de internamento, melhor uso do medicamento, maior adesão à terapêutica e aumento da satisfação dos doentes ou cuidadores. O envolvimento dos farmacêuticos no apoio à alta está também associado à redução significativa dos erros da medicação. A condução de programas de reconciliação pelo farmacêutico demonstrou uma redução do número de atendimentos devidos a reações adversas a medicamentos e do número de episódios de urgência. A presença do farmacêutico na unidade de pediatria melhora a compreensão da medicação, a adesão e a satisfação do doente, existindo um melhor controlo das condições crónicas.
Os estudos abordados neste relatório que comparam a prescrição efetuada por profissionais de saúde não-médicos com elevado nível de autonomia de prescrição demonstraram resultados comparáveis aos dos médicos e melhor adesão à terapêutica. Segundo os autores, “os farmacêuticos têm um desempenho tão bom ou melhor do que os médicos na gestão da anticoagulação”, sendo mais propensos a manter os doentes dentro do intervalo terapêutico, existindo menos erros de prescrição e alcançando similares níveis de satisfação dos doentes.
As evidências revistas nesta opinião mostram que muitas tarefas que eram tradicionalmente de certos tipos de profissionais de saúde, particularmente dos médicos, são agora de outros profissionais, incluindo os farmacêuticos. Contudo, a evidência é ainda limitada uma vez que as avaliações existentes se concentraram num número relativamente limitado de áreas e no reforço das funções de grupos específicos de profissionais de saúde. Em muitos casos, os exemplos estudados focam-se no aperfeiçoamento e papel do farmacêutico na revisão da medicação.
Contrariamente à “introdução de produtos farmacêuticos e outros produtos e intervenções inovadoras, que são submetidos a avaliações intensivas e longos processos de aprovação” a adoção de novas funções profissionais “ocorre geralmente sem qualquer controlo, a menos que esteja ligado à implementação de novas tecnologias.” Segundo os autores, é fundamental “que as mudanças sejam avaliadas, os resultados sejam documentados e as lições aprendidas”. A mudança é difícil uma vez que requere que todos os elementos envolvidos entendam os motivos que levaram à mudança e é também necessário superar todas as barreiras legislativas ou regulamentares existentes. Mesmo reconhecendo que uma redistribuição de papéis entre profissionais de saúde “não é uma panaceia” para os desafios que os sistemas de saúde enfrentam, quando baseada em evidência e implementada de forma eficaz, pode contribuir significativamente para os resultados em saúde e sustentabilidade do sistema.